"Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo." Confúcio

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Escala CARS (Autismo)

 

Escala CARS para avaliação complementar de Autismo

Childhood Autism Rating Scale (CARS). Autismo infantil: tradução e validação da Childhood Autism Rating Scale para uso no Brasil

Fonte: Pereira A, Riesgo RS,Wagner MB.Childhood autism: translation and validation of the Childhood Autism Rating Scale for use in Brazil.

Artigo completo gratuitamente no link: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572008000700001&script=sci_arttext

O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento, e seu quadro comportamental é composto basicamente de quatro manifestações: déficits qualitativos na interação social, déficits na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades.

Somando-se aos sintomas principais, crianças autistas freqüentemente apresentam distúrbios comportamentais graves, como automutilação e agressividade em resposta às exigências do ambiente, além de sensibilidade anormal a estímulos sensoriais.

A prevalência do autismo varia de 4 a 13/10.000, ocupando o terceiro lugar entre os distúrbios do desenvolvimento infantil à frente das malformações congênitas e da síndrome de Down tico de autismo permanece clínico.Os critérios atualmente utilizados são aqueles descritos no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV)4 .Os critérios do DSM-IV para diagnóstico de autismo têm umgrau elevado de especificidade e sensibilidade emgrupos de diversas faixas etárias e entre indivíduos com habilidades cognitivas e de linguagemdistintas; no entanto, para avaliar os sintomas de forma quantitativa e refinar o diagnóstico dife-

rencial, outros instrumentos são necessários.A Childhood Autism Rating Scale (CARS) foi desenvolvida ao longo de anos e é especialmente eficaz na distinção de casos de autismo leve, moderado e grave, além de discriminar crianças autistas daquelas com retardo mental.

É uma escala de 15 itens que auxilia na identificação de crianças com autismo e as distingüe de crianças com prejuízos do desenvolvimento sem autismo. Sua importância consiste na diferenciação do autismo leve-moderado do grave.

É breve e apropriada para uso em qualquer criança acima de 2 anos de idade. Sua construção foi realizada durante 15 anos e incluiu 1.500 crianças autistas. Para tal, levaram-se em conta os critérios diagnósticos de Kanner (1943), Creak (1961), Rutter (1978), Ritvo & Freeman (1978) e doDiagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III) (1980).

A escala avalia o comportamento em 14 domínios geralmente afetados no autismo, mais uma categoria geral de impressão de autismo. Estes 15 itens incluem: relações pessoais, imitação, resposta emocional, uso corporal,uso de objetos, resposta a mudanças, resposta visual, resposta auditiva, resposta e uso do paladar, olfato e tato,medoou nervosismo, comunicação verbal, comunicação não verbal, nível de atividade, nível e consistência da resposta intelectual e impressões gerais.

Os escores de cada domínio variam de 1 (dentro dos limites da normalidade) a 4 (sintomas autistas graves). A pontuação varia de 15 a 60, e o ponto de corte para autismo é 30.

Tabela 2 - Versão em português da CARS

Relações pessoais:

1 Nenhuma evidência de dificuldade ou anormalidade nas relações pessoais: O comportamento da criança é adequado à sua idade. Alguma timidez, nervosismo ou aborrecimento podem ser observados quando é dito à criança o que fazer, mas não em grau atípico;

2 Relações levemente anormais: A criança pode evitar olhar o adulto nos olhos, evitar o adulto ou ter uma reação exagerada se a interação é forçada, ser excessivamente tímida, não responder ao adulto como esperado ou agarrar-se ao pais um pouco mais que a maioria das crianças da mesma idade;

3 Relações moderadamente anormais: Às vezes, a criança demonstra indiferença (parece ignorar o adulto). Outras vezes, tentativas persistentes e vigorosas são necessárias para se conseguir a atenção da criança. O contato iniciado pela criança é mínimo;

4 Relações gravemente anormais: A criança está constantemente indiferente ou inconsciente ao que o adulto está fazendo. Ela quase nunca responde ou inicia contato com o adulto. Somente a tentativa mais persistente para atrair a atenção tem algum efeito.

II. Imitação:

1 Imitação adequada: A criança pode imitar sons, palavras e movimentos, os quais são adequados para o seu nível de habilidade;

2 Imitação levemente anormal: Na maior parte do tempo, a criança imita comportamentos simples como bater palmas ou sons verbais isolados; ocasionalmente imita somente após estimulação ou com atraso;

3 Imitação moderadamente anormal: A criança imita apenas parte do tempo e requer uma grande dose de persistência ou ajuda do adulto; freqüentemente imita apenas após um tempo (com atraso);

4 Imitação gravemente anormal: A criança raramente ou nunca imita sons, palavras ou movimentos mesmo com estímulo e assistência.

III. Resposta emocional:

1 Resposta emocional adequada à situação e à idade: A criança demonstra tipo e grau adequados de resposta emocional, indicada por uma mudança na expressão facial, postura e conduta;

2 Resposta emocional levemente anormal: A criança ocasionalmente apresenta um tipo ou grau inadequados de resposta emocional. Às vezes, suas reações não estão relacionadas a objetos ou a eventos ao seu redor;

3 Resposta emocional moderadamente anormal: A criança demonstra sinais claros de resposta emocional inadequada (tipo ou grau). As reações podem ser bastante inibidas ou excessivas e sem relação com a situação; pode fazer caretas, rir ou tornar-se rígida até mesmo quando não estejam presentes objetos ou eventos produtores de emoção;

4 Resposta emocional gravemente anormal: As respostas são raramente adequadas à situação. Uma vez que a criança atinja um determinado humor, é muito difícil alterá-lo.Por outro lado, a criança pode demonstrar emoções diferentes quando nada mudou.

IV. Uso corporal:

1 Uso corporal adequado à idade: A criança move-se com a mesma facilidade, agilidade e coordenação de uma criança normal da mesma idade;

2 Uso corporal levemente anormal: Algumas peculiaridades podem estar presentes, tais como falta de jeito, movimentos repetitivos, pouca coordenação ou a presença rara de movimentos incomuns;

3 Uso corporal moderadamente anormal:Comportamentos que são claramente estranhos ou incomuns para uma criança desta idade podem incluir movimentos estranhos com os dedos, postura peculiar dos dedos ou corpo, olhar fixo, beliscar o corpo, auto-agressão, balanceio, girar ou caminhar nas pontas dos pés;

4 Uso corporal gravemente anormal: Movimentos intensos ou freqüentes do tipo listado acima são sinais de uso corporal gravemente anormal. Estes comportamentos podem persistir apesar das tentativas de desencorajar as crianças a fazê-los ou de envolver a criança em outras atividades.

V. Uso de objetos:

1 Uso e interesse adequados por brinquedos e outros objetos: A criança demonstra interesse normal por brinquedos e outros objetos adequados para o seu nível de habilidade e os utiliza de maneira adequada;

2 Uso e interesse levemente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode demonstrar um interesse atípico por um brinquedo ou brincar com ele de forma inadequada, de um modo pueril (exemplo: batendo ou sugando o brinquedo);

3 Uso e interesse moderadamente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode demonstrar pouco interesse por brinquedos ou outros objetos, ou pode estar preocupada em usá-los de maneira estranha. Ela pode concentrar-se em alguma parte insignificante do brinquedo, tornar-se fascinada com a luz que reflete do mesmo, repetitivamente mover alguma parte do objeto ou exclusivamente brincar com ele;

4 Uso e interesse gravemente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode engajar-se nos mesmos comportamentos citados acima, porém com maior freqüência e intensidade. É difícil distrair a criança quando ela está engajada nestas atividades inadequadas.

VI. Resposta a mudanças:

1 Respostas à mudança adequadas à idade: Embora a criança possa perceber ou comentar as mudanças na rotina, ela é capaz de aceitar estas mudanças sem angústia excessiva;

2 Respostas à mudança adequadas à idade levemente anormal: Quando um adulto tenta mudar tarefas, a criança pode continuar na mesma atividade ou usar os mesmos materiais;

3 Respostas à mudança adequadas à idade moderadamente anormal: A criança resiste ativamente a mudanças na rotina, tenta continuar sua antiga atividade é difícil de distraí-la. Ela pode tornar-se infeliz e zangada quando uma rotina estabelecida é alterada;

4 Respostas à mudança adequadas à idade gravemente anormal: A criança demonstra reações graves às mudanças. Se uma mudança é forçada, ela pode tornar-se extremamente zangada ou não disposta a ajudar e responder com acessos de raiva

VII. Resposta visual:

1 Resposta visual adequada: O comportamento visual da criança é normal e adequado para sua idade. A visão é utilizada em conjunto com outros sentidos como forma de explorar um objeto novo;

2 Resposta visual levemente anormal: A criança precisa, ocasionalmente, ser lembrada de olhar para os objetos. A criança pode estar mais interessada em olhar espelhos ou luzes do que o fazem seus pares, pode ocasionalmente olhar fixamente para o espaço, ou pode evitar olhar as pessoas nos olhos;

3 Resposta visual moderadamente anormal: A criança deve ser lembrada freqüentemente de olhar para o que está fazendo, ela pode olhar fixamente para o espaço, evitar olhar as pessoas nos olhos, olhar objetos de um ângulo incomum ou segurar os objetos muito próximos aos olhos;

4 Resposta visual gravemente anormal: A criança evita constantemente olhar para as pessoas ou para certos objetos e pode demonstrar formas extremas de outras peculiaridades visuais descritas acima.

VIII. Resposta auditiva:

1 Respostas auditivas adequadas para a idade: O comportamento auditivo da criança é normal e adequado para idade. A audição é utilizada junto com outros sentidos;

2 Respostas auditivas levemente anormais: Pode haver ausência de resposta ou uma resposta levemente exagerada a certos sons. Respostas a sons podem ser atrasadas e os sons podem necessitar de repetição para prender a atenção da criança. A criança pode ser distraída por sons externos;

3 Respostas auditivas moderadamente anormais: As respostas da criança aos sons variam. Freqüentemente ignora o som nas primeiras vezes em que é feito. Pode assustar-se ou cobrir as orelhas ao ouvir alguns sons do cotidiano;

4 Respostas auditivas gravemente anormais: A criança reage exageradamente e/ou despreza sons num grau extremamente significativo, independente do tipo de som

IX. Resposta e uso do paladar, olfato e tato:

1 Uso e resposta normais do paladar, olfato e tato: A criança explora novos objetos de um modo adequado a sua idade, geralmente sentindo ou olhando. Paladar ou olfato podem ser usados quando adequados. Ao reagir a pequenas dores do dia a dia, a criança expressa desconforto, mas não reage exageradamente;

2 Uso e resposta levemente anormais do paladar, olfato e tato: A criança pode persistir em colocar objetos na boca; pode cheirar ou provar/experimentar objetos não comestíveis. Pode ignorar ou ter reação levemente exagerada à uma dor mínima, para a qual uma criança normal expressaria somente desconforto;

3 Uso e resposta moderadamente anormais do paladar, olfato e tato: A criança pode estar moderadamente preocupada em tocar, cheirar ou provar objetos ou pessoas. A criança pode reagir demais ou muito pouco;

4 Uso e resposta gravemente anormais do paladar, olfato e tato: A criança está preocupada em cheirar, provar e sentir objetos, mais pela sensação do que pela exploração ou uso normal dos objetos. A criança pode ignorar completamente a dor ou reagir muito fortemente a desconfortos leves.

X. Medo ou nervosismo:

1 Medo ou nervosismo normais: O comportamento da criança é adequado tanto à situação quanto à idade;

2 Medo ou nervosismo levemente anormais: A criança ocasionalmente demonstra muito ou pouco medo ou nervosismo quando comparada às rea-ções de uma criança normal da mesma idade e em situação semelhante;

3 Medo ou nervosismo moderadamente anormais: A criança demonstra bastante mais ou bastante menos medo do que seria típico para uma criança mais nova ou mais velha em uma situação similar;

4 Medo ou nervosismo gravemente anormais: Medos persistem mesmo após experiências repetidas com eventos ou objetos inofensivos. É extremamente difícil acalmar ou confortar a criança. A criança pode, por outro lado, falhar em demonstrar consideração adequada aos riscos que outras crianças da mesma idade evitam.

XI. Comunicação verbal:

1 Comunicação verbal normal, adequada à idade e à situação;

2 Comunicação verbal levemente anormal: A fala demonstra um atraso global. A maior parte do discurso tem significado; porém, alguma ecolalia ou inversão pronominal podem ocorrer. Algumas palavras peculiares ou jargões podem ser usados ocasionalmente;

3 Comunicação verbal moderadamente anormal: A fala pode estar ausente. Quando presente, a comunicação verbal pode ser uma mistura de alguma fala significativa e alguma linguagem peculiar, tais como jargão, ecolalia ou inversão pronominal. As peculiaridades na fala significativa podem incluir questionamentos excessivos ou preocupação com algum tópico em particular;

4 Comunicação verbal gravemente anormal: Fala significativa não é utilizada. A criança pode emitirgritos estridentes e infantis, sons animais ou bizarros, barulhos complexos semelhantes à fala, ou pode apresentar o uso bizarro e persistente de algumas palavras reconhecíveis ou frases

XII. Comunicação não-verbal:

1 Uso normal da comunicação não-verbal adequado à idade e situação;

2 Uso da comunicação não-verbal levemente anormal: Uso imaturo da comunicação não-verbal; a criança pode somente apontar vagamente ou esticar-se para alcançar o que quer, nas mesmas situações nas quais uma criança da mesma idade pode apontar ou gesticular mais especificamente para indicar o que deseja;

3 Uso da comunicação não-verbal moderadamente anormal: A criança geralmente é incapaz de expressar suas necessidades ou desejos de forma não verbal, e não consegue compreender a comunicação não-verbal dos outros;

4 Uso da comunicação não-verbal gravemente anormal: A criança utiliza somente gestos bizarros ou peculiares, sem significado aparente, e não demonstra nenhum conhecimento do significados associados aos gestos ou expressões faciais dos outros.

XIII. Nível de atividade:

1 Nível de atividade normal para idade e circunstâncias: A criança não é nem mais nem menos ativa que uma criança normal da mesma idade em uma situação semelhante;

2 Nível de atividade levemente anormal: A criança pode tanto ser um pouco irrequieta quanto um pouco “preguiçosa”, apresentando, algumas vezes, movimentos lentos. O nível de atividade da criança interfere apenas levemente no seu desempenho;

3 Nível de atividade moderadamente anormal: A criança pode ser bastante ativa e difícil de conter. Ela pode ter uma energia ilimitada ou pode não ir prontamente para a cama à noite. Por outro lado, a criança pode ser bastante letárgica e necessitar de um grande estímulo para mover-se;

4 Nível de atividade gravemente anormal: A criança exibe extremos de atividade ou inatividade e pode até mesmo mudar de um extremo ao outro.

XIV. Nível e consistência da resposta intelectual:

1 Ainteligência é normal e razoavelmente consistente em várias áreas: A criança é tão inteligente quanto crianças típicas da mesma idade e não tem qualquer habilidade intelectual ou problemas incomuns;

2 Funcionamento intelectual levemente anormal: A criança não é tão inteligente quanto crianças típicas da mesma idade; as habilidades apresentam-se razoavelmente regulares através de todas as áreas;

3 Funcionamento intelectual moderadamente anormal: Em geral, a criança não é tão inteligente quanto uma típica criança da mesma idade, porém a criança pode funcionar próximo do normal em uma ou mais áreas intelectuais;

4 Funcionamento intelectual gravemente anormal: Embora a criança geralmente não seja tão inteligente quanto uma criança típica da mesma idade, ela pode funcionar até mesmo melhor que uma criança normal da mesma idade em uma ou mais áreas.

XV. Impressões gerais:

1 Sem autismo: a criança não apresenta nenhum dos sintomas característicos do autismo;

2 Autismo leve: A criança apresenta somente um pequeno número de sintomas ou somente um grau leve de autismo;

3 Autismo moderado: A criança apresenta muitos sintomas ou um grau moderado de autismo;

4 Autismo grave: a criança apresenta inúmeros sintomas ou um grau extremo de autismo.

Pode ser pontuada utilizando valores intermediários =1,5; 2,5; e 3,5.

15-30 = sem autismo 30-36 = autismo leve-moderado 36-60 = autismo grave

Este estudo traduziu e validou para a língua portuguesa, do Brasil, a CARS, uma escala mundialmente utilizada para diagnóstico e classificação do autismo e que, pela sua importância, já está traduzida para o japonês, sueco, francês, entre outros idiomas.

O DSM-IV representa um sistema de classificação desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria e utiliza as três características básicas do autismo, enquanto os 15 itens da CARS permitem um diagnóstico mais objetivo ao incluírem as características de autismo primário descritas por Kanner, as observadas por Creak&Rutter e escalas adicionais (CID-10 e DSM-IV).

. A correspondência entre os dois métodos pode chegar a 98%9, sendo, portanto, complementares no diagnóstico.

Como suspeitar de autismo numa avaliação psicopedagógica

 

Autora desse texto: Simaia Sampaio

É incomum recebermos crianças para diagnóstico psicopedagógico antes dos cinco anos de idade, entretanto as escolas já se sentem mais seguras em identificar e sinalizar aos pais que a criança não está acompanhando como uma criança de sua idade, seja em relação à linguagem ou ao comportamento, e finalmente perceberam que não cabe mais aquela fala que “cada criança tem seu tempo”, pois isto acarreta em um adiamento de um diagnóstico cujo tratamento poderia ser iniciado desde cedo, favorecendo uma re-habilitação eficiente.

Não cabe ao psicopedagogo dar qualquer diagnóstico em relação a alterações no comportamento, pois esta é uma função do médico psiquiatra ou neurologista, mas o psicopedagogo será capaz de perceber se a criança está respondendo como uma criança de sua idade, se sua aprendizagem está fluindo bem ou se há atraso em seu desenvolvimento seja em relação à linguagem, à psicomotricidade ou ao comportamento que possa prejudicar uma aprendizagem acadêmica. Além disso, poderá identificar se as causas de possível atraso estão relacionadas ao ambiente familiar, a uma imaturidade ou se há suspeita de um déficit neurológico devendo fazer o encaminhamento para o serviço de neurologia.

Na verdade o professor em sala de aula é bastante capaz de perceber estas diferenças de desenvolvimento, pois trabalha com crianças de mesma idade e pode constatar diariamente a produção individual de cada um. No entanto, o professor é limitado, ele não tem acesso às informações familiares para que possa entender o contexto, e não é sua função realizar esta investigação mais aprofundada, já que a ele cabe a mediação do conhecimento mais sistemático.

Em psicopedagogia ouvimos muito dizer que a aprendizagem não diz respeito apenas aos conteúdos escolares (aprendizagem sistemática), desta forma podemos concluir que o psicopedagogo poderá também buscar identificar se esta criança pré-escolar está realizando boas aprendizagens assistemáticas, que possam prepará-la para as sistemáticas mais tarde, e não esperar que ela complete sete anos para fazer uma avaliação, pois poderá ser tarde demais, já que será mais difícil organizar as redes neurais, principalmente no caso dos autistas.

Para tanto é imprescindível que o psicopedagogo tenha conhecimento destas fases de desenvolvimento infantil, segundo Piaget, e experiência na observação de crianças pequenas para que tenha condições de suspeitar de alguma alteração mais acentuada no comportamento.

O autismo é uma síndrome difícil de ser diagnosticada quando não é a forma mais grave da doença. Ela afeta as crianças em diferentes níveis, do mais brando ao mais severo, mas é possível perceber alguns traços do espectro do autismo neste ambiente lúdico da psicopedagogia.

Para uma criança na idade de três a seis anos não necessitamos de muitas sessões para a avaliação, pois não há provas a serem aplicadas. Reservamos cerca de três a quatro sessões para realizar uma observação lúdica da interação desta criança com o ambiente, além das que devem ser realizadas com os pais como anamnese e devolutiva. Ao realizar a primeira sessão com a criança, que chamamos de EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) devemos oferecer-lhe alguns brinquedos de montar, de encaixar e dentre estes alguns que contenham coisas que giram, pois o autista tem um fascínio por objetos que rodam e podem ficar por um longo tempo envolvido nesta ação de girar, como rodas de carro por exemplo. Devemos também deixar à disposição objetos que possam ser classificados por tamanho, por cores, pois esta é outra característica do autista. O autista não interage de maneira lúdica com estes brinquedos, ele não brinca, ele procura organizá-los de uma forma sistemática geralmente colocando-os enfileirados. O mundo do autista é um mundo metódico e sistemático, onde ele gosta que as coisas estejam sempre do mesmo jeito, na mesma ordem, priorizam ao máximo a rotina e se sentem confortáveis e seguros com ela. Podem ficar nervosos e agitados se encontrarem um móvel fora do lugar na sessão seguinte. É por isto que não é qualquer consultório que pode receber uma criança autista, pois este deve ser organizado para ter o mínimo de estímulos que possam afetar a sensibilidade natural destas crianças.

Devemos observar também se esta criança apresenta maneirismo, estereotipias, ou seja, se há movimentos atípicos com as mãos como se as mexessem no ar, ou se seguem rituais. É possível que estes comportamentos não se apresentem de forma intensa no consultório, mas deverão ser sondados com a família durante a anamnese.

Observe durante as sessões se ela utiiza sua mão como ferramenta, ou seja, se ao invés dela pegar o objeto ela pega sua mão e leva até o objeto para que você pegue. É importante lembrar que nem todos os sintomas irão estar presentes em uma mesma criança com autismo.

Normalmente a criança autista possui dificuldades em imitar gestos. Então um teste bem simples é solicitar que a criança imite alguns gestos corporais, manuais e faciais. Também possui dificuldade em reconhecer expressões faciais, ou seja, dificuldade em identificar quando o outro está feliz, triste, com cara de nojo, de espanto etc. É interessante fazer cartões com imagens de pessoas com diversas expressões e pedir que a criança as identifique.

É importante deixar a criança livre com bonecos, carrinhos etc para observarmos como a criança interage, se há um brincar intencional, o que não acontece com o autista.

O profissional deverá observar se a criança atende quando é chamada. Esta questão é muitas vezes confundida com uma surdez, por isto é sempre importante solicitar uma audiometria recente, em qualquer diagnóstico, para estar pronta antes do fechamento da avaliação. É comum que o profissional pense em um TDAH quando sabe que a criança ouve bem, mas não atende quando é chamada. Neste caso é importante avaliar outros aspectos, pois o tdah pode não olhar por estar distraído, mas não apresentará outros sintomas que já foram descritos e um muito importante que deve ser levado em consideração que é o olhar. Os autistas pouco ou quase nunca olham pelo incômodo que sentem. Carly, que vive nos EUA, é uma autista que conseguiu se comunicar através de um computador a partir dos dez anos de idade e contou que ao olhar para o rosto de uma pessoa, é como se seu cérebro tirasse milhares de fotografias o que a incomoda e faz com que evite o contato ocular.

Considerando que o autismo tem base genética é importante observar este pai ou esta mãe quando conversamos com eles. Existem autistas adultos que podem passar despercebidos, que se casam e nunca receberam diagnóstico, mas possuem um relacionamento muitas vezes conturbado pela dificuldade em expressar seus sentimentos ou entender os do cônjuge. Ao realizarmos a anamnese devemos estar atentos como se comportam este pai ou esta mãe, se nos evitam olhar nos olhos, se há uma inquietação, devemos perguntar se ficam incomodados com barulhos, como é sua organização etc.

Uma visita à escola é imprescindível para observar sua interação social, sua comunicação que são as áreas mais comprometidas da criança autista. Normalmente tendem a isolar-se do grupo, mesmo quando sua linguagem se desenvolve assim como sua cognição como é o caso do Asperger, mas que também está dentro do espectro do autismo.

Chegamos agora num ponto que gostaria de chamar bastante atenção. Muitos psicopedagogos recebem alguns adolescentes para avaliação psicopedagógica, aplicam as provas operatórias, identificam que seu cognitivo está bem. Sua linguagem é desenvolvida, porém muitas vezes há alterações na prosódia e apresentam manias e isolamento. O psicopedagogo poderá pensar que são hábitos da adolescência ou que é um adolescente tímido, mas inteligente e não suspeitam de um possível espectro do autismo. Normalmente estes adolescentes são retraídos, não gostam de contato social, apresentam fixação por um determinado assunto, evitam o contato visual e apresentam alguns rituais de comportamento. Muitas vezes já passaram por outros profissionais que nem suspeitaram de que pudesse se tratar de Síndrome de Asperger.

Particularmente já tive duas situações em que supervisionei psicopedagogas diferentes, realizando avaliação de adolescente e que não se deram conta de que poderia se tratar do espectro autista, pois havia maneirismo, isolamento social e apesar de terem a linguagem preservada a prosódia era alterada.

O objetivo de uma avaliação precoce é possibilitar que esta criança tenha a chance de ser submetida às terapias adequadas enquanto sua rede de neurônios ainda esteja apta a realizar novas conexões com mais facilidade, pois a re-habilitação torna-se mais difícil caso esta fase seja ultrapassada sem estímulos adequados.

A Escala C.A.R.S é utilizada como avaliação complementar e deverá ser aplicada junto aos pais e à escola. Clique aqui para obter a Escala CARS: http://simaia.blogspot.com.br/2013/08/escala-cars-autismo.html 

A terapia mais indicada é a cognitivo comportamental, através da qual a criança irá aprender que não precisa se agredir para se comunicar. Ela irá aprender uma nova linguagem de comunicação, a agir com mais autonomia, a saber esperar, etc. A instituição AMA trabalha desta forma, infelizmente são poucas as vagas. Um consultório de psicopedagogia poderá se propor a trabalhar sua mobilidade cognitiva, sua autonomia, mas irá sempre precisar de um trabalho multidisciplinar envolvido, mesmo que não seja no mesmo espaço, cuja equipe deverá estar sempre conversando e traçando os melhores caminhos de tratamento, nunca esquecendo que os pais também deverão passar por um processo de psicoterapia, pois normamente abandonam suas vida em prol desta criança.

Simaia Sampaio é Psicopedagoga Clínica há mais de dez anos realizando diagnóstico e intervenção. Especialista em Neuropsicologia da Aprendizagem. Graduada em Pedagogia. Graduanda em Psicologia. É autora de livros na área que poderão ser adquiridos em seu site www.psicopedagogiabrasil.com.br. É palestrante e ministrante de cursos.

Marcação de consulta: psicosimaia@ig.com.br (Salvador/BA)

Se desejar obter mais informações sobre a Psicopedagogia acesse meu site http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/